Waldir Bíscaro
Está claro que, se queremos falar de “construção da
maturidade”, não é da maturidade biológica nem da cronológica que estamos
falando e sim da psicológica ou, como se convencionou de uns tempos para cá, da
emocional.
Maturidade emocional não é
um conceito original e muito menos simples.
Trata-se naturalmente de
um “constructo”, na linguagem acadêmica,
conceito construído a partir de dois conceitos básicos: Maduro
e Emoção.
Maduro, conceito tomado de empréstimo à botânica
- os frutos amadurecem. É o ápice da perfeição biológica, quando o fruto atinge
um ponto de crescimento que o torna capaz de gerar, de reproduzir seres
semelhantes ou, em uma concepção popular, está pronto
para ser consumido.
“Maturidade” vem a ser
então a qualidade de ser maduro ou a prontidão para gerar, indicando a finalização
de um processo ou do aperfeiçoamento biológico.
O conceito de
“Maturidade”, ao ser transferido para designar um estágio na evolução do homem,
sofreu algumas alterações. A designação original de prontidão para a reprodução
foi abandonada e passou a se referir a um estágio bem mais à frente, talvez de
caráter economicista, de prontidão para o trabalho produtivo. Maturidade
cronológica foi atribuída arbitrariamente a pessoas com idades acima de
quarenta ou de cinquenta anos e não mais ao adolescente, biologicamente apto a
reproduzir. Robert Havighurst transfere para os sessenta anos o período da
maturidade, Erik Erikson e Levinson propõem os sessenta e cinco anos.
Fora da marcação
cronológica há, hoje, uma abundância de empregos da palavra maturidade:
maturidade artística, maturidade atlética, maturidade profissional e outras
mais, sempre significando ponto
de aperfeiçoamento ou de alcance de plenitude.

Emoção, conceito oriundo da psicologia. Emoção é um estado afetivo intenso que o indivíduo manifesta perante um estímulo e se caracteriza por manifestações neurofisiológicas como palidez, suor, aceleração do pulso, tremor, riso, choro entre outras. “Emocional” é o qualificativo de todo comportamento baseado na emoção e se contrapõe a racional. Perante um estímulo aprazível, a reação do indivíduo será de alegria. Diante de estímulo desagradável, a reação será de tristeza. A palavra “Emocional” também sofreu uma mutação ou, melhor, uma ampliação de significado. Ao invés de apenas indicar um sentido de algo que desencadeia emoções, passou a ser sinônimo de mental ou de psicológico. Essa ampliação é facilmente justificável. As reações emocionais tomam, dentro de nós, tamanho espaço que dificilmente podemos isolar algum comportamento que não traga as marcas da emoção. Tudo ao nosso redor é recheado de significados e tais significados desencadeiam em nós respostas emocionais: gostar ou não gostar, amar ou odiar, alegrar ou entristecer, admirar ou desprezar. Nem sempre as emoções ocuparam espaço digno de sua importância entre os acadêmicos, o tema era visto como algo secundário. Sua “promoção” a tema de peso deveu-se muito a alguns filósofos. Blaise Pascal, o filósofo francês do século dezessete, já havia intuído a força das emoções na determinação dos comportamentos. É dele uma frase que se popularizou entre nós: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Outro filósofo, o dinamarquês S. Kierkegaard, também resgatou a importância das emoções na construção do pensamento filosófico, com destaque para a angústia existencial. Max Scheler, o filósofo da teoria dos valores, atribui às emoções uma função para lá de nobre que é a captação de valores. Para Scheler, os valores são intuídos pelas emoções, sem a intervenção da razão.
Uma vez
ressalvado, o sentido mais nobre da emoção, podemos tranquilamente empregá-la
em consórcio com o conceito de maturidade. Assim, quando dizemos: Maturidade
Emocional, não queremos dizer apenas uma reação adequada a um determinado
estímulo e muito menos a reação típica de pessoa adulta frente a esse estímulo.
Significa muito mais:
"Atingir estágio de crescimento pessoal
que torna o indivíduo capaz de se comportar de forma positiva e construtiva em
relação a si mesmo, em relação a outras pessoas e em relação ao ambiente."
Leia mais
Anacrônicas
1 e 2, disponíveis em:
http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/cronica/anacronicas-odesenvolvimento-
nao-para-n-1.html
Anacrônica
3, disponível na Revista Portal de Divulgação – Abril 2012
http://portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php/revistaportal/article/viewF
ile/233/255
Waldir Bíscaro - Filósofo e psicólogo e ex-professor
de Psicologia do Trabalho na PUC/SP.
E-mail:
awbiscaro@uol.com.br
REVISTA PORTAL de
Divulgação, n.22, Ano II, jun. 2012: 75-78.
ISSN 2178-3454