quinta-feira, 14 de junho de 2012

Maturidade Emocional














Waldir Bíscaro 


 Está claro que, se queremos falar de “construção da maturidade”, não é da maturidade biológica nem da cronológica que estamos falando e sim da psicológica ou, como se convencionou de uns tempos para cá, da emocional. 
Maturidade emocional não é um conceito original e muito menos simples.
Trata-se naturalmente de um “constructo”, na linguagem acadêmica,  conceito construído a partir de dois conceitos básicos:  Maduro  e   Emoção.
Maduro, conceito tomado de empréstimo à botânica - os frutos amadurecem. É o ápice da perfeição biológica, quando o fruto atinge um ponto de crescimento que o torna capaz de gerar, de reproduzir seres semelhantes ou, em uma concepção popular, está  pronto para ser consumido.


“Maturidade” vem a ser então a qualidade de ser maduro ou a prontidão para gerar, indicando a finalização de um processo ou do aperfeiçoamento biológico.
O conceito de “Maturidade”, ao ser transferido para designar um estágio na evolução do homem, sofreu algumas alterações. A designação original de prontidão para a reprodução foi abandonada e passou a se referir a um estágio bem mais à frente, talvez de caráter economicista, de prontidão para o trabalho produtivo. Maturidade cronológica foi atribuída arbitrariamente a pessoas com idades acima de quarenta ou de cinquenta anos e não mais ao adolescente, biologicamente apto a reproduzir. Robert Havighurst transfere para os sessenta anos o período da maturidade, Erik Erikson e Levinson propõem os sessenta e cinco anos.
Fora da marcação cronológica há, hoje, uma abundância de empregos da palavra maturidade: maturidade artística, maturidade atlética, maturidade profissional e outras mais, sempre significando ponto de aperfeiçoamento ou de alcance de plenitude.

Emoção, conceito oriundo da psicologia. Emoção é um estado afetivo intenso que o indivíduo manifesta perante um estímulo e se caracteriza por manifestações neurofisiológicas como palidez, suor, aceleração do pulso, tremor, riso, choro entre outras. “Emocional” é o qualificativo de todo comportamento baseado na emoção e se contrapõe a racional. Perante um estímulo aprazível, a reação do indivíduo será de alegria. Diante de estímulo desagradável, a reação será de tristeza. A palavra “Emocional” também sofreu uma mutação ou, melhor, uma ampliação de significado. Ao invés de apenas indicar um sentido de algo que desencadeia emoções, passou a ser sinônimo de mental ou de psicológico. Essa ampliação é facilmente justificável. As reações emocionais tomam, dentro de nós, tamanho espaço que dificilmente podemos isolar algum comportamento que não traga as marcas da emoção. Tudo ao nosso redor é recheado de significados e tais significados desencadeiam em nós respostas emocionais: gostar ou não gostar, amar ou odiar, alegrar ou entristecer, admirar ou desprezar. Nem sempre as emoções ocuparam espaço digno de sua importância entre os acadêmicos, o tema era visto como algo secundário. Sua “promoção” a tema de peso deveu-se muito a alguns filósofos. Blaise Pascal, o filósofo francês do século dezessete, já havia intuído a força das emoções na determinação dos comportamentos. É dele uma frase que se popularizou entre nós: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Outro filósofo, o dinamarquês S. Kierkegaard, também resgatou a importância das emoções na construção do pensamento filosófico, com destaque para a angústia existencial. Max Scheler, o filósofo da teoria dos valores, atribui às emoções uma função para lá de nobre que é a captação de valores. Para Scheler, os valores são intuídos pelas emoções, sem a intervenção da razão.
  
Uma vez ressalvado, o sentido mais nobre da emoção, podemos tranquilamente empregá-la em consórcio com o conceito de maturidade. Assim, quando dizemos: Maturidade Emocional, não queremos dizer apenas uma reação adequada a um determinado estímulo e muito menos a reação típica de pessoa adulta frente a esse estímulo. Significa muito mais: 


"Atingir estágio de crescimento pessoal que torna o indivíduo capaz de se comportar de forma positiva e construtiva em relação a si mesmo, em relação a outras pessoas e em relação ao ambiente."

Leia mais
Anacrônicas 1 e 2, disponíveis em:
http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/cronica/anacronicas-odesenvolvimento-
nao-para-n-1.html
Anacrônica 3, disponível na Revista Portal de Divulgação – Abril 2012
http://portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php/revistaportal/article/viewF
ile/233/255


Waldir Bíscaro - Filósofo e psicólogo e ex-professor de  Psicologia do Trabalho na PUC/SP.
E-mail: awbiscaro@uol.com.br

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.22, Ano II, jun. 2012: 75-78.  ISSN 2178-3454 

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